DESERTO ( Thedy, Veco e Carlos )
Ele sentou no deserto
Decerto esperava alguém
Não era velha a espera
Nem mesmo ele era também
Talvez tivesse vinte e três
Talvez
0 deserto era incerto
0 que era céu era terra
0 que se movia era pedra
0 que parecia não era
Nem sequer semelhante
Ao que tentava parecer
A cidade era o deserto
0 jovem era homem velho
E quem passava ao seu lado
Jamais conseguiria entender
Ele sentou no deserto
Decerto esperava alguém
O deserto era incerto
0 que era céu era terra
0que parecia não era
0 que tentava parecer
A cidade era o deserto...
SOBRE O TEMPO ( Thedy )
Os homens trocam as famílias
As filhas filhas de suas filhas
E tudo aquilo que não podem entender
Os homens criam os seus filhos
Verdadeiros ou adotivos
Criam coisas que não deviam conceber
0 tempo passa e nem tudo fica
A obra inteira de uma vida
0 que se move e o que nunca vai se mover
O passado está escrito
Nas colunas de um edifício ou
Na geleira
Onde um mamute
Foi morrer
0 tempo engana aqueles que pensam
Que sabem demais
Que juram que pensam
Existe também aqueles que juram
Sem saber
O tempo passa e nem tudo fica...
JULIA ( Thedy )
Ela sempre vinha
Na mesma hora naquele lugar
0 encontro igual
Depois sair a caminhar
Em silêncio, os dois
A rua estreita, a casa antiga e
As escadas desiguais
A madeira e o som dos nossos pés
Até o quarto de dormir
De janelas fechadas
Mas sempre cheio de luz
Julia, Julia, Julia
Durante uma hora, talvez um pouco mais
Ela chorava até cansar
Eu respondia sim
Pouca coisa pra dizer
Ela quer que tudo seja assim
Ela dizia adeus
Eu dizia boa sorte e estava só
Até amanhã
Naquele mesmo lugar
Ela vem me encontrar
Julia, Julia, Julia
Os dois se encontravam diariamente.
E bastava isso para que continuasse assim.
AS MULHERES OUE EU RASGUEI ( Thedy, Veco, Carlos e Sady )
Água morna na banheira
No meu corpo
Minhas roupas no chão
0 cenário de um crime
Que estava para acontecer
Meu segredo
Minhas mãos molhadas
Seguravam as revistas
Onde estavam as mulheres
Que não eram reais
Mas que me pertenciam
Mais do que outra qualquer
As revistas em pedaços
Das mulheres que eu rasguei
Eu vou me despedir
As mulheres em pedaço
Das revistas que eu rasguei
Eu vou me despedir Helen
Que eu não via há muito tempo
Suas longas unhas afiadas, vivas
Nua na foto
Nos ombros um véu
Todo seu corpo era encantador
Nina Linda aleijada
Moga mutilada, que eu amava tanto
Eu vestido de padre
O nosso pecado
A igreja e o altar
São os sonhos de um jovem ateu
Garotinha
Minha favorita
Nada mais que um nome
E um crime a faca em San Diego
Onde foi se juntar com as outras
Que sumiam corn a água
Rumo ao esgoto e depois ao mar
As revistas em pedaços...
ALGO QUE NAO SE PODE TOCAR ( Thedy e Veco )
Dedos esticados, buscando
Algo que não se pode tocar
Deuses diabos
Buscando algo que possa
Lhe dar de volta
Sua alma
Alma
Dia após dia
Vagando pelas ruas
Sua procura
Ela sempre ela
Vagando pelas ruas
Sua procura
A alma e o amor abraçados
No fogo unidos
Beijos no escuro
Ela procura sua alma
A alma e o amor
Nada existe que não seja um só
Areias e pedras
Talvez não esteja contida no corpo
Aquilo que busca
Dia após dia ...
EXTRAÑO ( Thedy )
0 que eu sinto a respeito dos homens
É estranho
É estranho como é frio é
Estranho como eu perdi a fé
É estranho como é estranho
Perguntar o nome
0 que eu sinto a respeito de nós
É estranho
É estranho como é triste
É estranho como olhar pra trás
É estranho como
É estranho
Esquecer um nome
Eu amei e acho que algumas vezes
Ela também me amou
Só que o prazer é tão curto
Eu amei e acho que algumas vezes
Ela também me amou
Só que o esquecimento é tão longo
O que eu penso a respeito de tudo
É estranho
É estranho como é simples
É estranho como esta canção
É estranho como
É estranho
Sussurrar um nome
O ESPELHO DO CEGO ( Thedy )
O espelho de Luís se quebrou
Ele era cego
Nem sempre foi
Mas morreu assim
Agenor na janela
Acenava um lenço branco
Dizia adeus
Pedia paz
O lenço branco
Na janela e
As palavras no ar
Até quando as pessoas
Serão sinceras sem querer
Pra depois
Se desculpar
O jovem Kaixi na China
O orgulho coletivo
Diziam adeus
Pediam paz
O lenço branco
Na praça e
As palavras no ar
Até quando, tantos vão depender
De tão poucos que
Não querem enxergar
A carne humana em desespero
A fome, a cura, a compreensão
Até quando tantos que
Não querem Enxergar
MENTIRA ( Vitor Ramil, Thedy, Veco, Sady e Carlos )
Pétalas surdas, folhas de ébano
Flores nascendo pelo tapete gris
As tuas roupas andam sozinhas
Puxam correntes de solidão
Velhos poetas ingleses saem dos livros
Tontos de sono e pó nem olham pra ti
Insegurança e medo na tua casa
Foges pra rua e não sei mais o que
Muito bem, uma vez então na rua as coisas melhoram
O dia é claro, a cidade se agita
A língua do sol lambe a calçada onde caminhas com
teu ar de dama
Lambe a umidade das pedras, sarjetas, postes e calhas
As pessoas suadas entram e saem
Em lojas e ônibus e bares lotados
Geme um vento quente entre tuas coxas de dama
Tudo se excita, então procuras por mim
Mentira! Tudo mentira! Pura mentira! Meu amor!
Agora aqui no meu quarto vens com toda essa história
Insegurança, medo e tesão te trouxeram pra cá
Pétalas surdas, roupas correntes, línguas, sarjetas, coxas
Talvez só os velhos poetas pareçam reais
Faz 10.000 anos que estou sentado aqui lendo esse livro
Faz 10.000 anos, me esqueç, estou morto afinal
Em 10.000 anoscabem palavras exatas
Flores, correntes, sarjeta e coxas parecem demais
Mentira! Tudo mentira! Pura mentira! Meu amor!
DAS COISAS QUE EU ENTENDO ( Thedy )
Oh! meu amigo, eu esperei tanto tempo por respostas
E depois de tanto tempo ainda havia mais pra esperar
Então, eu sentei e esperei, resolvi desprezar o tempo
Eu não sabia mais o que vestir e
Eu não tinha mais para onde ir
Você não ligou quando eu disse
Para ter cuidado
E tinha razão
Você precisa ser livre
Meus dias se passavam rápidos como um sonho
Você disse que eu saberia facilmente
Como chegar onde eu queria
Não há morte, não há raiva
Só arrependimento e amor
E disso tudo eu entendo muito bem
O CÉU ( Thedy e Veco )
Ele parecia inteiramente de acordo com o mundo
Mesmo quando se fechava na sala ás duas da tarde para
praticar o clavicórdio com uma disciplina inflexível
Feria as notas que abriam portas
Entrando em quartos iguais até o infinito
Imaginando que o próximo seria o céude tudo
De que preciso
O INFERNO E O CÉU ( Thedy e Veco )
Ela veio
De muito longe
Num trem subúrbio
Pra me encontrar
Porque ela é
Ao mesmo tempo
O inferno
E o céu
A tarde acaba e
Eu me despeço
Da minha amante
Das tardes todas
Ela percebe
O véu eterno
Que separa nossas vidas
Eu sei de tudo
De que preciso
Pra ser um sábio
Que nada sabe
E o que eu não sei
Ela me ensina
No breve tempo do nosso abraço
Ela veio
De muito longe
Num trem subúrbio
Pra me encontrar
Porque ela é
Ao mesmo tempo
O inferno
E o céu
De longe eu vejo
A velha igreja
No bairro pobre
Onde ela mora
E me convida Silenciosa
Pra uma oração
Ao lado dela
Ela veio
De muito longe
Num trem subúrbio
Pra me encontrar
Porque ela é
Ao mesmo tempo
O inferno
E o céu